Onde?
Se vira, perguntei hoje ao meu mar,
Um pagem muito terno e enlevado
A tentar descobrir, a procurar
Alguém que noutros tempos tinha amado!
O mar emudeceu, não quis falar...
Anelante, mas muito agitado
Sussurou-me baixinho, a faiscar,
Que afastasse a ideia de pecado...
Onde está ele, o príncipe encantado?
Nas tuas altas vagas torturado
Ou nas nossas colinas da saudade?
Deixa-o chegar às margens do areal!
Seremos harmonia musical,
Com este pó de oiro em fim de tarde!
Ressonâncias, Natividade Negreiros
(1993)
Sorver a vida
Eu quero amar, viver sofregamente
Num desejo bem louco e incontido!
Amar a vida, os astros, toda a gente!
Encontrar o meu sonho já perdido...
E sorver desvairada o sol poente
Num lampejo de eterno enlouquecido!
Acompanhada, ou só, é-me indiferente...
Mas, num cruzar de horas conseguido!
Respirar bem fundo e sorver a vida!
Alcançar uma íngreme subida,
Libertar o arfar do coração!
Atingir nas alturas o luar,
O loiro do sol e o teu acenar
E voltar a sentir o que é paixão!!!
Ressonâncias, Natividade Negreiros
(1993)
QUERO
Eu quero ser amada e quero amar
E não ser suportada nem traída...
Quero sentir magia no luar
Sentir que de alguém inda sou vida!
Quero ser abraçada e abraçar!
Quero saber ouvir e ser ouvida,
Eu quero poder rir, poder falar...
E assim ser uma onda não vencida!
Quero que meu olhar seja alvorada!
Quero ter uma boca apaixonada
Quero sentir um peito anelante!...
É estranho, não é? Mas é verdade!
Eu quero despertar uma saudade
Ao som de um teclado fascinante!
Ressonâncias, Natividade Negreiros
(1993)
MULHER
Será que ser Mulher é um privilégio
Ou tortura infinita sem sabor?
Não é, não pode ser um sacrilégio
Dizer que ela encerra todo o amor!
A palavra Mulher tem sortilégio
Quando dela se emana seu calor,
Ternura, confiança, poder régio
Com sombras e magias de sol-pôr...
Mulher! És tu suporte desta vida!
Mesmo num abandono de esquecida
Te desdobras em raios de luar!
Sabes dar com verdade e fortaleza
No meio da abundância ou da pobreza
Com coração a rir e a sangrar!!!
Ressonâncias, Natividade Negreiros
(1993)
Girassóis
Regressava do mar e fiquei presa!
Encantamento tal, louca ventura!
Palavras para quê, se era princesa
Coroada por tanta formosura?
Girassóis agitavam a beleza
Num fim de tarde, grito de procura...
Suas hastes continham a leveza
Duma corola aberta e insegura!
Um momento de sonho e de verdade!
Eu era uma princesa sem idade
Perdida, sem saber por onde vim!
E enquanto o sol se ia escondendo
Com sombras que me iam envolvendo,
Achei uma perdida igual a mim!...
Lugares Secretos, Natividade Negreiros